Depois de Tenet, John David Washington estrela agora Beckett, outro filme de ação, mas dessa vez um bom filme de ação.

É comum o medo de passar por problemas em um lugar estranho, com pessoas que você não conhece e cujo idioma você não fala. Essa angústia é retratada neste filme, no qual Beckett (David Washington) viaja para a Grécia com a namorada April (Alicia Vikander) e se vê perseguido pela polícia após um grave acidente automobilístico envolvendo os dois.

Tão atraentes que chega a dar raiva, as cenas iniciais são reservadas para desenvolver o amor do casal e o fazem de forma bastante eficiente. Ok, mesmo com algumas falas bregas o carinho entre os dois é demonstrado nas confidências e brincadeiras. O diretor italiano Ferdinando Cito Filomarino consegue capturar muito bem esse tom de afeição como no breve plano que registra somente as pernas entrelaçadas abaixo da mesa enquanto o casal cochicha feliz num pequeno restaurante.

Essa base evidentemente tem por objetivo a sustentação de um envolvimento emocional que antecede as coisas ruins que estão prestes a acontecer: você sabe que vai dar merda. Funciona, pois quando os contratempos ocorrem, estamos envolvidos o suficiente pra se importar com aquelas duas pessoas e com o que vai acontecer, principalmente, com o protagonista.

A trilha de Ryuichi Sakamoto é por vezes inebriante. Durante as perseguições iniciais, possuem um tom de suspense noir, mas em vez de cidades sujas e cinzas, são as belas montanhas gregas de Tsepelovo que compõem a paisagem onde um cara tenta se esconder da polícia.

Os perseguidores, aliás, mostram que não estão pra brincadeira, ou que a Netflix dessa vez não teve medo de maneirar na violência para pegar uma classificação indicativa menor. Eles são do tipo que batem antes e perguntam depois, mesmo que o suspeito de esconder Beckett seja um senhorzinho humilde.

O protagonista não é um super-herói ou espião treinado. É um cara comum, sortudo ou azarado demais, tendo, inclusive, algum tipo de crise ansiosa que o deixa ofegante quando ativados gatilhos de traumas. Essa vulnerabilidade o deixa mais complexo e passível de simpatia. Nós torcemos por ele porque aquilo podia acontecer conosco. Quem nunca foi perseguido injustamente pela polícia em uma viagem de férias, certo? Normal.

Pistas são plantadas, mas apenas pinceladas de resposta são apresentadas. O que é excelente pra deixar o ar de mistério ainda mais instigante: Beckett é “a pessoa errada no lugar errado”, ou alguém que realmente possui envolvimento no esquema? Quem são aquelas pessoas e os motivos delas?

Tudo meio que se encaixa ao fim, mas não de forma escancarada. O que torna Beckett uma boa alternativa de ação com tons políticos tímidos, mas tons dramáticos competentes.


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VISÃO GERAL
Avaliação
Messias Adriano
Concluiu cursos ministrados por Pablo Villaça e o Curso Básico de Cinema da Casa Amarela (Universidade Federal do Ceará). Assiste muitos filmes, lê muito sobre cinema. Embora saiba que pra vencer importa mais campanha do que qualidade, sempre se empolga com temporadas de premiação.
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