Crítica pertencente ao Festival Internacional de Cinema de Brasília.

Até que Você Me Ame é um filme auto consciente das limitações do custo de produção. De forma alguma coloco esse ponto com algo negativo. Pelo contrário, isso permite a reunião de estratégias que facilitam a viabilização e construção da história.

Ruby (Ingvild Deila) é uma menina que acorda em um local desmemoriada e sem a possibilidade de mexer as pernas (os ligamentos foram cortados). Quem fez isso? Tom (interpretado por Jonathan Cobb), o mesmo rapaz que a sequestrou e diz que só vai libertar a garota se a mesma se apaixonar por ele.

Apesar de alguns flashbacks, a trama se passa em grande parte da projeção em um único ambiente.

O que significa duas coisas: primeiro é que a direção precisa dominar o espaço da história para dar dinamismo à narrativa (através de enquadramento e movimentos de câmeras precisos). Segundo são os diálogos que necessitam ser cuidadosos para não ficar expositivos demais e sabotar o suspense.

O primeiro ponto é feito de forma interessante. Tom, inicialmente é fotografado em uma câmara baixa (do posto de vista de Ruby no chão). Isso já nos deixa dentro da perspectiva da personagem.

Poderíamos considerar a cena do jantar, onde a câmera faz um movimento (que “lembra” a cena do jantar em O Sexto sentido) para se aproxima de Ruby que lentamente se descontrola e o transbordar de suas lágrimas revelam a tristeza que é estar ali. Entendemos que a personagem está fingindo durante a refeição.

Porém, isso é diluído quando chega o momento do roteiro fornecer as explicações. Tom inventa uma história absurda que toma grande parte do último ato. Na tentativa de convencer a refém que a sequestrou devido a garota ter ficado sem as memórias porque sofreu um abuso sexual de outro personagem antes de Tom.

No entanto, Ruby se lembra de tudo e percebe que é mentira. Sabe o mais curioso? O próprio sequestrador estava ajudando ela a se lembrar das coisas, acredite se quiser. E já havia dito que em algum momento ela iria se lembrar de tudo. Se o próprio tinha consciência de tal fato, porque caiu na própria armadilha?

Rubi luta com Tom e foge de seu cativeiro (mas não antes de cortar a garganta do rapaz).

Mas fugir foi inútil. A garota perde as forças e acorda em um “hospital fake” que o próprio Tom recriou (lembrando que ele tinha sido atacado e estava ensanguentado no chão).

Sendo assim, o roteiro sabota o que – aparentemente – se apresentou como uma grande potência do diretor.

Uma pena.

 

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Como se deve INICIAR um FILME?

 

VISÃO GERAL
Nota
Pedro Amaro
Estudou cinema na escola Cinema Nosso e é formado em Estudos de Mídia. Roteirista, futuro diretor e colecionar de HQ. É editor chefe do Canal Claquete. Odeia arrogância no cinema.
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