Seria este o filme da vida de James Grey?

É bem ousado dizer que uma única obra sucinta toda a experiência de um diretor renomado de Hollywood tal como Grey, mas há com certeza ao menos um recorte para inspirar o filme. Armageddon Time transcorre no Queen’s dos anos 80 e tem como protagonista Paul Graff (Michael Banks Repeta), um adolescente que vai aos poucos amadurecendo ao longo da trama.

Um filme de jornada com forte presença familiar e escolar, traz para cheque duras questões da sociedade normativa da época. Paul é um menino branco que presencia o racismo escancarado das pessoas ao seu redor, tendo como melhor amigo Jhonny Davis (Jaylin Weeb) um colega negro da mesma sala.

Através da relação entre os dois, Paul passa a questionar conceitos que até então não eram relevantes. Isso é muito aflorado pelo seu lado artístico e sonhador somado à prepotência juvenil.

Já o lado familiar do enredo, revela comportamentos tóxicos e agressivos. Há visivelmente uma pressão interna para que o menino corresponda às expectativas de seus pais em suas escolhas profissionais e atitudes do dia a dia. Esther (Anne Hathaway) é a típica mãe de família responsável pelo acompanhamento dos filhos e gestão da casa, assim como Irving (Jeremy Strong) precisa assumir o papel de pai agressivo e violento quando preciso.

Outra grande relação do menino, talvez a maior delas, é o elo familiar do avô. Aaron (Anthony Hopkins) é o vetor do amadurecimento do menino. Isso fica evidente quando o menino questiona o que fazer com o racismo presente em sua recém nova escola com forte ideologia trumpista – Seja uma pessoa íntegra, responde o avô.

Armageddon Time é um filme sobre o constante rebuliço hipócrita americano presente no governo Reagan, cuja síntese é personificada por um adolescente cujo sonho é ser um artista famoso.

A obra de Grey traz muitas questões reflexivas acerca dos padrões normativos socialmente aceitos e dados como certos à época. Uma estrutura clássica hollywoodiana, sendo uma obra perfeita para os amantes dos dramas sociais americanos.

 

Confira os textos sobre filmes da 46ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo: AQUI

 

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