O surgimento de partículas desconhecidas resulta na morte de boa parte da população, causando, ao mesmo tempo, uma onda de pânico e luto. Lembra alguma realidade no momento? É, eu sei, mas como o próprio título do filme diz, as fatalidades aqui são causadas por monstros letais, como baratas ou sapos gigantes.
Acompanhados por uma divertida narração em voiceover, conhecemos Joel (Dylan O’Brien), um carismático habitante de um de muitos esconderijos do mundo pós-apocalíptico. Mesmo paralisando por completo quando confrontado com perigos iminentes, ele decide sair do bunker sozinho e viajar por 7 dias para encontrar Aimee (Jessica Henwick), um amor do passado que vive a quilômetros de onde ele está.
A simpatia desse protagonista vem em boa parte pela insegurança. Fotografia e direção se alinham na proposta de ressaltar também a falta de adequação de Joel naquele lugar. Há nos primeiros minutos uma bonita composição das pernas de um casal em primeiro plano, iluminado em cores quentes, e Joel ao fundo, tomado por um cor azulada. Quando vai anunciar a decisão de ir embora, a mise-en-scène dispõe Joel longe de todos os companheiros do bunker. Já nos flashbacks com Aimee, a profundidade de campo é sempre reduzidíssima, destacando somente o que importa na memória dele: o próprio casal.
A viagem não possui tanta tensão como alguns poderiam esperar de uma boa aventura. Quando está sozinho, Joel insiste em falar em voz alta consigo mesmo, de uma forma que só personagens irritantes poderiam fazer: “entre na casa para proteção”, “uma agulha através da água“.
Pra nossa sorte, ele esbarra em outros personagens pelo caminho, e é nessas interações que a leveza do filme diverte, seja quando Joel erra um tiro e justifica apenas dizendo ”Vento.”, ou mesmo quando um personagem ao melhor estilo Rodrigo Hilbert aparece de repente e gera ciúmes. O maior destaque vai para os poucos minutos com Mav1s, um robô que fala de amor, mas que consegue transmitir mais emoção pela transformação expressiva e afetuosa dos olhinhos, do que quando Christopher Nolan tenta fazer um discurso tocante sobre o mesmo tema.
Concebendo efeitos visuais exitosos em ressaltar a nojeira das criaturas (mas que por vezes parecem “digitais demais“), o encaminhamento final é um tanto quanto controverso. É fato que Joel evolui – como a própria Mav1s tinha cantado a pedra do que poderia acontecer, mas há um significado implícito dúbio na conclusão. Se há um encorajamento a encarar mudanças e aceitar o erro, o paralelo com momento atual não cai muito bem.
Talvez aquela não fosse a melhor ocasião – especialmente pros mais velhos ou debilitados, para desbravar um mundo perigoso. Talvez ainda não seja a nossa hora de arriscar e sair da toca, pois nem sempre haverá um deus ex machina (ou um cachorro) pra aparecer no último momento e nos salvar.
Ou talvez eu esteja sendo indiferente demais. O que mais importa é que Amor E Monstros conta uma jornada leve e divertida, liderada por um protagonista carismático e com um humor bem dosado.
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