As contradições de classe habitam o cenário de Amor a Prazo, filme de 2021 dirigido por Yin Chen-Hao, de forma que adentram o melodrama social perfurando diversas facetas da sociedade taiwanesa. Tendo como protagonista um cobrador de dívidas Zhang Meng-cheng (Roy Chiu), em seu primeiros trinta muitos supõe-se que a história teria como cerne um jogo tal qual A Bela e a Fera.

Zhang, ao cobrar uma dívida de Shu-Ling (Peace Yang) a propõe cancelar tal dívida caso ela saia com ele por alguns dias. Mas essa própria ideia não é a estrutura principal da história, uma vez que o filme está interessado em justamente dilacerar as estruturas sociais, de forma que a trama que envolve o Complexo de Estocolmo permanece apenas no seu início.

Dessa forma, o que a princípio parece ser um ato que busca explorar Shu-Ling acaba se revelando como uma forma de Zhang mentir para os seus superiores e aliviar a dívida de Shu. Diferente de A Bela e a Fera, que afirma “ela o ama apesar de tudo”, Amor a Prazo diz “ela o ama apesar das coisas que ele fez como um subordinado explorado tal como si mesma”.

Uma das maneiras de revelar isso está na naturalização da casa de Zhang, os conflitos familiares ganham espaço na mise-en-scène e são contextualizados em boa parte com a filmagem em profundidade de campo, por exemplo, as brigas familiares que ocorrem no segundo plano. Além, é claro, nas próprias dinâmicas presentes nas cenas em que Zhang está trabalhando, revelando a exploração de si pela agiota Cai (Chung Hsin-Ling), uma vez que ele na sua posição subalterna assume os riscos.

Nesse sentido, a história caminha para uma fatalidade inevitável, após um breve romance, acontece uma série de reviravoltas e acontecimentos que botam em cerne, no contexto melodramático, os impedimentos da satisfação amorosa. A realidade social constrói obstáculos a ponto de Zhang não largar aquilo que impede uma relação saudável com Shu.

Depois de um grande corte de tempo percebe-se que o protagonista ajudou não intencionalmente a construir um patrimônio de que ele não tem direito. A mais-valia em seu aspecto mais didático.

Entretanto, o filme quase em sua totalidade se mostrou em uma unidade estética que não consegue abarcar os minutos finais, sequência que seria melhor simplesmente não existir, deixando assim o filme mais curto. Todo o filme já se mostrava melodramático desde seu princípio, um melodrama associado à sutileza, mesmo com o exagero típico do gênero, de forma que o final se assemelha à um videoclipe mal feito.

Amor a Prazo, assim, acaba sendo um filme com horas de boa execução formal, construindo um discurso elaborado sobre a sociedade, mas que mesmo assim se perde em uma condução operante que vai atingir o máximo da superficialidade discursiva nos minutos finais.


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