Após muitas idas e vindas na administração das adaptações da DC Comics para o cinema, Adão Negro chega oferecendo o auge do Blockbuster pausterizado, em conjunto da direção de James Caullet Serra na árdua tarefa de fazer o jogo dos fãs, mas esquecendo-se de fazer cinema.

O protagonista do longa é introduzido através de um prólogo exibicionista e a temática da escravidão e tantas outras pautas relevantes tornam-se uma nota de rodapé no longa. A falta de relevância é o menor dos problemas, o filme relata dilemas contraditórios, como o punitivismo, disfarçando a alta seriedade dessas pautas em uma  abordagem reducionista do longa.

Uma forte jornalista  torna-se, basicamente, uma fanática religiosa por um “ser” comprovadamente perigoso e cruel e uma cidade estrangeira recusa o auxílio de super-seres oriundos de um Império político internacional, mudando repentinamente de ideia por necessidades da trama.

Após as primeiras cenas do personagem no longa, a violência se torna uma marca registrada da direção. O épico caótico dos embates e o alto número mortes torna tudo comum e quando se torna necessário valorizar o épico, temos mais uma cena com a  trilha sonora  altíssima e o telespectador em qualquer contexto, e para completar, cenas slow-motion com poses ou golpes repetitivos, sem compromisso com a continuidade.

O desespero pela ação de temática moralista fica tão constrangedor que surgem relações entre os personagens apenas para inserção de um espetáculo descartável de computação gráfica.

Nesse ponto, a direção parece estar  constrangida  com esses personagens, não conseguindo usá-los sem trazer um certo deboche sobre suas motivações, essas mesmas que são jogadas para escanteio, dado que captar o rosto dos atores fazendo piadas abruptas em planos fechados cíclicos é o auge do aproveitamento dos personagens em tela.

A constante de superficialidade é um padrão, onde os temas não são os únicos, revelando uma pesquisa de marketing em formato de filme, uma vez que  todo filme de super-herói tem a necessidade de um alívio cômico infantil estilo side-kick, porém, de forma expositiva. Se todo filme desse gênero tem um antagonista clichê, teremos um aqui, sendo inteiramente feito de computação gráfica e sem qualquer senso de ameaça.

Essa pré-disposição ao pueril seria proveitoso se o saldo final fosse uma catarse de adrenalina, mas não ter lógica qualquer na estrutura que leva ao acontecimento principal, rendendo-se a busca por uma mochila, qual será o grau de ligação do telespectador com uma trama, que em tese, é épica mas que se mostra apenas confusa?

Os ambientes com aparições cíclicas para disfarçar o uso de telas verdes é uma parcela dessa confusão. Os personagens ficam alheios naquele ambiente, à mercê da história e na trama evidencia-se o potencial desperdiçado do núcleo de coadjuvantes, como o convincente Doutor Destino de Pierce Brosnan, ao proporcionar a seriedade em medida aceitável ao longa.

Adão Negro é o seu protagonista perdido em pautas importantes para justificar os acontecimentos, critica o neoimperialismo político ignorando o cultural, pois é cabível uma criança idealizar seu mundo ideal na pátria estaduniense com gibis e capas  mas não é aceitável recusar a sua cultura e valores.

Esse personagem em específico, Amon, do Intérprete Bodhi Sabongui, é um ponto focal interessante ressaltar, ele se torna um escape do texto, ao sempre, fugir e correr, e mesmo que em circunstâncias improváveis e impossíveis, a sua mãe muda de ideia por causa  meia dúzia de palavras ditas pelo Adão Negro, devido ao fato de James Caullet Serra ter consciência apenas do quanto mais raios devem aparecer, mesmo que o jovem passe por situações ilógicas.

Essa falta de sentido interna é uma das mazelas das infinitas inconsistências narrativas, como a repentina aliança próximo ao desfecho, para o embate com o complexo antagonista de Marwan Kenzari. Sabbac na sua alcunha, é redundante em todos os sentidos sendo previsível sua virada, a sua história é explícita em uma convivência de roteiro abrupta, e a grande reviravolta para sua ascensão é a literal “ler a frase ao contrário”.

The Rock chega ao universo compartilhado da DC, com mudanças relevantes e importantes, propõe um filme de ação com história dispensável, grita por todo filme a importância da cena pós-créditos com diálogos e referências, sem se atentar à qualidade dos embates ocorridos em tela.

Com influência do cinema recente de super-heróis, através de tentativas de emulação do James Gunn e Zack Snyder, talvez pela conexão entre as obras dos personagens, a assinatura da direção é um grande declínio. Em troca da popularização e comercialização de uma marca, Adão Negro propõe ação com história inóspita de personalidade e fica a  venda de um novo projeto, sem ao menos vender esse.

 

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Graduando de Comunicação Social e Ciências Sociais, Intérprete de LIBRAS e cursado na AIC em Roteiro de Cinema e TV. Pai de duas crianças lindas, fã do Batman desde pirralho, cinéfilo amante de Kyoshi Kurosawa, Dario Argento e Guel Arraes.