Abaixo de Zero, novo longa do diretor Lluiz Quílez, é uma das mais recentes produções originais no catálogo da Netflix. O filme aborda uma emboscada sofrida por dois policiais – Martin (Javier Gutiérrez) e Montesinos (Isak Férriz) – enquanto estão transportando alguns presos para outro local. Eles precisarão lidar com muitas adversidades dentro e fora do veículo blindado. 

Enquanto Martin acredita na lei como poder superior, Montesinos é um pouco menos ético, chegando a ser agressivo com os detentos. Martin é educado e evita a força bruta a qualquer custo. A obra apresenta muitos problemas de linguagem e construção de personagem. É evidente que qualquer filme precisa funcionar como um todo. Reparti-lo em “cenas ruins” e “cenas boas” não é um exercício justo. Porém, neste primeiro momento, o texto tratará dos aspectos positivos. O diretor realmente consegue criar um ar de tensão durante as quase 2 horas de duração.

A trilha sonora, a fotografia fria e a fumaça densa da rua auxiliam na proposta. Logo no início da projeção, assistimos o protagonista com um problema no carro, trocando o pneu e conversando com sua filha pequena. Esses elementos não estão ali à toa. São um prenúncio para os principais problemas que estão por vir. Outro mérito é que Quílez consegue manipular o espectador. Quando alguém ameaça invadir o veículo da polícia, somos levados a acreditar que é algum resgate para um dos bandidos presentes. No final, não é nada do que pensamos. 

O principal aborrecimento é que estes parecem ser os únicos momentos promissores. Apesar do ritmo acelerado e uma tentativa de surpreender, a obra decepciona. O diretor apresenta a questão moralista envolvendo os problemas da legislação e a justiça com as próprias mãos de forma simplória. Os personagens são meras caricaturas. O policial bom; o policial mau; alguém querendo se vingar; os criminosos violentos. Durante toda a primeira metade do filme é tudo muito maniqueísta.

Então, em uma certa circunstância, sem nenhum contexto plausível para isso, os presos mostram compaixão pelos outros e querem se ajudar, mesmo que, minutos antes, todos estivessem querendo entregar um deles para a morte. A dupla de Martin, Montesinos, também tem momentos que não levam a lugar algum. Não há sutilezas para tratar da questão falha da polícia. Tudo depende de diálogos expositivos, forçados e sem linguagem prévia para embasar o que está acontecendo. 

Não há dúvidas em relação à opinião do diretor. Contudo, isso não seria um problema caso a forma fosse bem trabalhada. De uma hora pra outra, o protagonista passa a entender a justiça com as próprias mãos e ignora todo o desastre que isso causou. Além disso, o detento principal é apresentado como o mais humano. Então, de maneira aleatória, ele aparece sádico e rindo do homem que está sofrendo pela filha.

Outra questão esquisita é que não existe razão para Abaixo de Zero explorar tanto a questão do frio (não acrescenta nada em termos de linguagem) e até mesmo ter o nome que tem. Não se trata das posições que o diretor expõe no filme, se é ou não a favor do Estado, mas de como ele apresenta isso em uma perspectiva simplória e até maldosa. Infelizmente, uma grande surpresa negativa. 

 

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Avaliação
Jornalista formada pela PUCRS, redatora e social media. Apaixonada por cinema, pesquisar e debater. Estuda profundamente Bergman e David Lynch
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