O novo filme da Laís Bodanzky trata sobre a viagem de Dom Pedro I para Portugal em busca de seu trono que está sendo ocupado pelo seu irmão. Segundo o filme, existem poucas literaturas que exploram esse período que se passa em uma lacuna na História do ponto em que Pedro sai do Brasil para disputar seu trono na Europa.

A diretora já teve trabalhos brilhantes como o seu quarto longa “Como Nossos Pais”(2017), que venceu em várias categorias no Festival de Gramado.

Não como deixar de notar a parte direção de arte do projeto, em questão de figurino e maquiagem o filme consegue realizar uma excelente performance. A produção é dividida em locais aqui no Brasil e outras locações (inclusive parte do figurino também) em Portugal, isso também explica o porquê do elenco ser bastante distribuído.

Outro ponto é a reconstrução de época, embora o filme se passe dentro de um navio, durante o decorrer da história também intercala em momentos pessoais da vida de Pedro. Sem contar com as cenas bem construídas vinculadas à músicas criadas para o próprio que conseguem trazer noções de suspense e intensidade.

Todas as suas angústias e conflitos são explorados nos flashbacks, como por exemplo a relação com seu irmão que podemos notar ao decorrer da trama que existe uma certa cobiça e ganância.

A partir desse momento que entra a conexão com nosso presente, pois, essa incansável busca mental e física pelo trono traz sentimentos e emoções ruins acarretam em pensamentos negativos e ardilosos em seus piores pesadelos.

Longe de romantizar a personalidade de Pedro e perpetuar uma imagem de herói do Brasil, até porque já sabemos o que acontecia no mundo em tempos de Império. Entretanto, sempre quando um filme de época é lançado, cabe a nós refletir o porquê de lançar neste exato momento em que estamos passando.

Digamos que não pode ter sido lançado neste momento por causa da comemoração dos 200 anos de independência do Brasil (e muito menos pela chegada coração de Dom Pedro I no Brasil), e sim reflexão moral do ponto de vista de uma sociedade em tempos históricos diferentes.

“A Viagem de Pedro” não é sobre o Pedro em si, mas também podemos interpretá-lo como uma observação sobre a masculinidade em tempos passados. Podemos notar aspectos psicólogos que passam na cabeça do homem cis e perceber como algumas características da sociedade do Brasil Império ainda habitam até no presente.

Mesmo com toda dramaturgia, acredito que a obra não falha historicamente, principalmente quando os pontos sobre a questão da escravidão e misoginia são colocados. Se hoje temos a discriminação racial e o machismo, isso são sintomas de uma estrutura maior que é o racismo e o patriarcado e que foram lapidados ao longo da historia brasileira.

As nuances de representativos em diferentes momentos históricos ora são intensificados ora estão graus menores, porém, os problemas sempre continuaram lá.

Laís faz um excelente trabalho na direção, perpassa o gênero de filme de época com estereotipo de sem posicionamento. Além de não passar uma sensação de simples explanação de podres, “A Viagem de Pedro” foge do reducionismo e provoca uma vontade de revisitar outros momentos com o olhar bodanzkiniano.

 

 

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