Um bom filme não precisa de atos grandiosos para o avanço da narrativa e construção de personagens. O cinema latino, fora do âmbito industrial, têm absorvido um formato que beira o neorrealismo. Diferentemente dos filmes de guerra, o arco dramático de La Taza Rota, ou A Taça Partida no Brasil, o filme de Esteban Cabezas explora o luto de um rompimento familiar.
Rodrigo (Juan Pablo Miranda) é um pai solitário que vive o luto da perda de seu núcleo familiar e não consegue cumprir os acordos feitos com a ex-mulher a respeito das visitas a seu filho. O presente o avassala vendo que sua ex e filho seguiram a vida com outro homem dentro do que era, até então, a sua casa também.
A obra transcorre linearmente com singelas passagens de tempo, explorando o tédio de Rodrigo e o abandono de sua antiga relação, materializados imagéticamente através das infiltrações e rachaduras da casa. A linguagem do filme não é transgressora, porém explora algo interessante: os formatos de quadro. Os enquadramentos comprimidos colocam pressão nos conflitos internos dos personagens que sofrem pela relação terminada, porém ainda presente.
Apesar do argumento nostálgico do filme, o protagonista não é nem um pouco passivo ou vítima, muito pelo contrário. Rodrigo vivencia o comportamento abusivo e impositivo, passando por cima dos limites de convivência e respeito pela casa de sua antiga família. O seu comportamento exemplifica o sentimento de posse com objetos e relações afetivas. Todas as ações são em prol de um único objetivo, reviver o seu papel na antiga relação.
O ápice do delírio de Rodrigo se dá no pseudo almoço de família através de um cachorro-quente nostálgico feito com o filho a fim de agradar a mãe. É nítido que a intenção do protagonista não é estabelecer relações afetivas com o filho e sim usá-lo como negociação de sua presença não desejada. As lentes de Esteban Cabezas exploram linguagens fílmicas para enfatizar a família perdida através de distorções e coloração diferenciada.
O filme é extremamente atual, considerando os numerosos casos de separação conjugais devido ao convívio excessivo no isolamento social. É interessante assistir à luta entre luto e ego do protagonista e a firmeza de sua ex-mulher no meio do turbilhão sentimental.
A Taça Partida integra a programação da 45ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo através da Competição Novos Diretores.
Confira os textos sobre alguns filmes da 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo: AQUI
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