Por Gabriela Rosa
Filme assistido no Festival do Rio 2024

Em um plano inicial de quase 10 minutos, o longa-metragem “A Queda do Céu” de Eryk Rocha e Gabriela Carneiro da Cunha, baseado no livro homônimo de Davi Kopenawa e Bruce Albert, mostra sua personalidade e sua densidade.

Tempestade. A tempestade vem, mas é sustentada. A comunidade de Watorikɨ se une para segurar o céu. O cinza do céu durante todo o filme dá a impressão de falta de proteção, algo que não está claro nem limpo. Alguma ameaça que paira. E é sobre isso que trata o filme, sobre o alerta de um perigo que está sempre próximo. Garimpo, doenças, homem branco.

Em outro momento, mais para o final do filme, o céu estrelado traz uma ideia de esperança.

A parceria e a força unificadora das gerações. Os rituais, as danças, os cantos, a forma de lidar com o luto, com o nascimento e com os desastres são registrados de forma belíssima no longa-metragem. A composição das imagens com a presença de cenas do filme “La Nature” de Artavazd Pelechian trazem aflição e tensão aos olhos e mentes dos espectadores. A natureza e a beleza da fotografia de Bernard Machado e Eryk Rocha nos penetra.

“A Queda do Céu” apresenta uma verdadeira crítica e um forte choque entre os Yanomami e o homem branco (napë, como eles chamam). Como uma oratória ouvimos os relatos de Davi Kopenawa. Um documento poético e transgressor sobre o cuidado com a natureza, com a casa, com o território. Sentimos, emotivamente, o peso do desmatamento, do garimpo ilegal, de todos os males que de alguma forma nós brancos causamos intencionalmente ou não, à terra.

Outros dois aspectos importantes no filme são: as forças xamânicas que vão ajudá-los a sustentar o céu; e o ritual Reahu que é a principal cerimônia para lidar com a morte. Nesta cerimônia eles inalam um pó alucinógeno que permite o contato com os espíritos de seus entes queridos, deixando-os em uma espécie de estado de transe.

Falar sobre “A Queda do Céu” é liberar as palavras Reconhecimento, Identidade e Coletividade. É entender a união e a parceria. As cerimônias e tradições. É buscar abrir o peito e receber um pouco do outro.

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