O cinema noir teve seu ápice de produção nos Estados Unidos entre os 1940 e 1950. Normalmente ancorado no suspense policial, os filmes desse gênero tinham como marca registrada personagens de visão cínica do mundo e um contraste aparente entre luz e sombra.

Não que A Mulher Na Janela pudesse ser enquadrado no gênero noir, mas há certas homenagens. Nele, a psicóloga Anna Fox (Amy Adams) sofre de agorafobia e está presa em uma casa enorme há 10 meses.

Ela assiste a filmes de suspense como Prisioneiro do Passado enquanto mistura remédios com álcool. Curiosa, ela também acompanha a dinâmica dos vizinhos pelas grandes janelas da casa onde vive, até que uma nova família chega ao bairro e acaba desencadeando em uma série de acontecimentos no mínimo estranhos.

A visão da protagonista não é confiável. Em uma passagem eficiente para demonstrar os efeitos da mistura da medicação com álcool, os enquadramentos de ângulos tortos se unem a uma montagem frenética e inquietante. Essa confusão mental poderia atiçar a curiosidade e engajamento na trama, mas outros elementos acabam por afastar o espectador.

A construção da relação entre os personagens é feita de maneira apressada. Com o vizinho de 15 anos, por exemplo, Anna vai da reclusão e isolamento ao abraço afetuoso em apenas minutos de conversa.

Em vez de usar o contraste entre luz e sombra, a fotografia de Bruno Delbonnel se alia às cores do design de produção e ilumina os ambientes de forma estilizada, mas artificial, fazendo com que cada cômodo tenha suas cores próprias: o quarto tomado pelo vermelho e rosa, a cozinha com luzes amarelas chamativas.

Os símbolos que o filme apresenta soam enfadonhos. Pra representar a relação difícil entre mãe e filho, a vizinha faz um desenho referenciando Jesus descido da cruz aos braços de Maria. Além disso, há dois flashbacks usados de forma totalmente desnecessária. É como se o filme duvidasse da capacidade do espectador de entendê-lo.

Como uma criança se divertindo com brinquedos novos (diga-se, um grande orçamento e um elenco estelar), Joe Wright renega a sutileza e abraça o exagero. O diretor faz movimentos de câmera grandiosos, de forma rápida e excessiva, mesmo quando não há necessidade. A estética da obra tem traços de um clipe musical pop e isso obviamente atrapalha o engajamento no mistério.

Até a performance de Gary Oldman soa dois tons acima, com seu personagem discutindo de forma acalorada e desproporcional algumas vezes. Parece que tudo contribui pra tirar o espectador filme.

O encaminhamento final até pode dar a impressão de que a trama tomará rumos mais empolgantes, quando parece que vai assumir a violência mais gráfica. Infelizmente, essa ferocidade final nunca engata. Assim como o suspense que acompanhamos durante todo o filme.


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ELEMENTOS DO PRIMEIRO EPISÓDIO DE INVENCÍVEL

VISÃO GERAL
Avaliação
Concluiu cursos ministrados por Pablo Villaça e o Curso Básico de Cinema da Casa Amarela (Universidade Federal do Ceará). Assiste muitos filmes, lê muito sobre cinema. Embora saiba que pra vencer importa mais campanha do que qualidade, sempre se empolga com temporadas de premiação.
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