Se ao assistir a nova série de Mike Flanagan para a Netflix o espectador estiver esperando a adrenalina típica do terror provocada por sua antecessora, A Maldição da Residência Hill, certamente ficará frustrado. A Maldição da Mansão Bly, lançada no início de outubro possui algumas similaridades à fórmula de sucesso anterior usada por Flanagan, como roteiro adaptado de obra literária, ambientação e elenco. Mas no que diz respeito à história e a forma como ela é contada, as produções são completamente díspares.

Enquanto em Residência Hill o diretor entrega um terror clássico com jumpscares e plot twists enriquecido com drama ao contar a história de uma família marcada por traumas, em a Mansão Bly é possível dizer que a “matemática é invertida”, ou seja, encontramos um drama clássico, com toques sobrenaturais. Aliás, é indispensável reconhecermos o talento de Flanagan em misturar gêneros, trazendo cargas dramáticas ao terror e vice-versa, algo facilmente perceptível em ambas as séries citadas e em Doutor Sono, longa-metragem adaptado e dirigido pelo mesmo.

O roteiro de A Maldição da Mansão Bly é uma livre adaptação da obra literária A Volta do Parafuso, do escritor americano Henry James, publicada em 1898. A mesma foi executada por Mike e seu irmão James Flanagan, dentre outros – com destaque para Leah Fang responsável pelo oitavo episódio (The Romance of Certain Old Clothes), sem dúvidas o melhor da temporada. Na produção para streaming, a clássica narrativa que pode ser interpretada tanto como um terror psicológico quanto uma “história de fantasma”, é acrescida de diversas camadas, plots e personagens. Há também a transição da trama para o final da década de 1980, o que permite a inserção de temáticas e personagens mais complexos, objetivo alcançado com êxito na série.

Mas há sim alguns problemas e eles são inegáveis. Mesmo com a bela fotografia e ambientação, grande parte da crítica expressou sua decepção para com a série, principalmente ao compará-la a Residência Hill. Independente da outra obra há um claro problema de ritmo em Mansão Bly; alguns episódios são mais longos que o necessário e inúmeros diálogos explicativos demais – principalmente no que diz respeito ao sobrenatural presente na trama.

Ainda nesta temática sua resolução acontece de forma simplória, um deus ex-machina que destoa dos demais desfechos. Outro ponto ressaltado inclusive pela crítica estrangeira é a questão do sotaque adotado pelos personagens; o jornal inglês The Guardian chama explicitamente atenção para o quão caricata ficou a fala de alguns, uma vez que a história se passa no interior da Inglaterra.

Apesar da questão citada acima o elenco mais uma vez é um acerto do diretor. Alguns são rostos já conhecidos de outros trabalhos de Flanagan, como Henry Thomas, Kate Siegel e Victoria Pedretti, além das adições excelentes como Amelia Eve, o ator de teatro britânico Rahul Kohli, T’Nia Miller (Years and Years) e Amelie Bea Smith que rouba a cena como a “perfeitamente esplêndida” Flora – além de dublar a conhecida porquinha Peppa Pig.

Concluindo, A Maldição da Mansão Bly pode decepcionar os fãs de terror que esperam sustos e grandes momentos de tensão, mas não erra em contar histórias de amor dramaticamente densas. O espectador mais atento é capaz de encontrar tanto horror em uma “morte vívida” quanto em uma moça de “pescoço quebrado”. Mike Flanagan novamente entrega um trabalho recheado de autoralidade, misturando gêneros e deixando claro que as emoções humanas podem ser tão aterrorizantes quanto fantasmas.

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VISÃO GERAL
Avaliação
Amanda Luvizotto é arquiteta, crítica de cinema formada pela Academia Internacional de Cinema do Rio de Janeiro. Integrante do grupo Mulheres no Terror, estuda sobre o papel da mulher no cinema e tem na leitura um de seus grandes prazeres. Estudante de cinema e eterna fã e defensora de Xavier Dolan.
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