O Cinema é arte.

Ok, pode ser difícil encarar produções como Bloodshot, Dolittle, ou Sonic – O Filme como obras nesse sentido. É preciso lembrar, no entanto, que também na arte podem existir dois polos: arte boa e arte ruim.

Dito isso, qual seria a serventia da crítica cinematográfica dentro do desse universo?

A crítica é a defesa de uma ideia sobre o filme, levando em consideração aspectos técnicos e critérios de julgamento. Seja ela mais rebuscada, acadêmica, informal, em texto, ou em vídeo, ela sempre terá essa base de definição.

Dentre os benefícios, há o resgate de filmes que estavam esquecidos, ou que passariam despercebidos pelo grande público. A resposta da crítica pode prejudicar, ou catapultar o sucesso de uma produção, ou de um artista. Alfred Hitchcock deve muito de sua carreira a François Truffaut, assim como Martin Scorsese recebeu de Roger Ebert o título de possível “Fellini americano” em texto que falava sobre o primeiro filme do diretor.

Além de influenciar nas conquistas de quem está por trás das câmeras, a crítica pode muito bem elevar a carreira de atores e atrizes que eram ignorados. Dentre os exemplos clássicos, está o de Marilyn Monroe. A estrela era zombada por críticos e, incomodada com a imperfeição, trabalhou para mudar a imagem de atriz ruim e caricata, de “sex symbol” vazio. Passou anos estudando no Actors Studio, renomada escola de Nova Iorque, e tornou-se adepta do Método de Interpretação do Ator.

Como consequência, teve reconhecimento da crítica por se afastar da superficialidade em Os Homens Preferem As Loiras (1953), passou a ser encarada como atriz séria e talentosa após críticas positivas do filme Nunca Fui Santa (1956) e teve consagração na fase final da carreira com a mistura de gêneros e em uma atuação cheia de sutilezas em Quanto Mais Quente Melhor (1959).

Some Like It Hot (1959)

Isso tudo faz com que a crítica seja uma maneira de ajuda para que novas visões, novos diretores, ou artistas ignorados, sejam, de alguma forma, notados com mais atenção pelo público.

No entanto, a crítica não pode funcionar como um guia de consumo. A boa crítica vai além o mero “vá ver”, “não vá ver” e entra no campo da discussão sobre a linguagem. Ela tenta expandir o que os artistas quiseram dizer, estendendo o prazer proporcionado por uma boa obra. A crítica é justamente uma forma de apreciar o Cinema como arte e aprofundar essa discussão. Ela faz uma avaliação dos significados do que foi produzido, uma espécie de dilatação dos sentidos.

A função da crítica é analisar, por exemplo, como o filme manipula os sentimentos do espectador por meio da fotografia (versar sobre a saturação, cores, movimento de câmera), da montagem, ou de outros aspectos próprios da linguagem cinematográfica. Às vezes, além da análise, a crítica pode conter uma atitude questionadora, ou provocadora, não com a pretensão de dizer ao artista como ele deveria ter trabalhado, mas propondo novos olhares, novas ideias.

 

Pauline Kael, a polêmica crítica de cinema, era multifacetada e ...
Pauline Kael, uma das figuras mais importantes da história da crítica.

 

A dúvida dos que rejeitam a crítica se resume a basicamente uma pergunta: “Por que qualquer pessoa não fala sobre filmes?” Bem, você iria querer ler a opinião de um capitão do exército sobre uma doença respiratória?

Não se pode tomar como verdade qualquer pessoa falando sobre Cinema. O ideal é que esse alguém tenha estudado, ou acumulado experiência com aquele tipo de arte. Deve-se levar em consideração a análise de alguém que ama e conhece aquilo, que faça minimamente observações acerca do contexto histórico, das nuances culturais da obra e de como ela se conecta com a sociedade. A boa avaliação deve ser aquela feita apresentando critérios de julgamento embasados num conjunto de valores e de referências técnicas. E são esses valores e referências técnicas que os críticos possuem.

“Mas eu não concordo com a crítica. Quer dizer que eu sou burro? Ninguém pode dizer que a crítica está errada?” Claro que pode! O papel da crítica não é afirmar que você está certo, ou errado. Ora, os próprios críticos divergem algumas vezes, isso porque as citadas “referências técnicas” não anulam a subjetividade de cada autor das críticas. No meio dessa discussão, torna-se imprescindível lembrar o que dizia o escritor Robert Warshow: “Um homem vai ao cinema. O crítico de deve ser honesto e reconhecer que é aquele homem”.

Ou seja, o crítico não é o guardião e portador da verdade. A crítica é feita por pessoas, e pessoas têm identidades e individualidades diferentes. Resta saber e analisar se essa opinião possui o embasamento necessário, ou não.

O fundamental sempre será que as pessoas tirem suas próprias conclusões. Uma análise crítica feita por um especialista, no entanto, pode iluminar as ideias de alguém. Se todo mundo pode entender um filme, a crítica funciona como uma grande facilitadora para essa compreensão.

A crítica, portanto, estimula a reflexão sobre a arte. Arte boa e arte ruim.

 

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Qual a semelhança entre CORINGA, CHAPLIN e SCORSESE?

Concluiu cursos ministrados por Pablo Villaça e o Curso Básico de Cinema da Casa Amarela (Universidade Federal do Ceará). Assiste muitos filmes, lê muito sobre cinema. Embora saiba que pra vencer importa mais campanha do que qualidade, sempre se empolga com temporadas de premiação.