A Netflix vem se destacando de forma bem positiva por seus documentários, inclusive contando com vários participando de grandes premiações.
Cabe aqui citar o famoso “Democracia em Vertigem” da diretora Petra Costa que foi indicado ao Oscar 2020 na categoria de Melhor Documentário em Longa Metragem, o “Laerte-se” que fala sobre a cartunista Laerte e seu processo de identificação como uma mulher trans e o excelentíssimo “Guerras do Brasil.doc” que relata grandes conflitos do nosso território com a participação de vários estudiosos da História do Brasil.
O “true crime” (gênero de filme sobre crimes reais) também vem se tornando cada vez mais popular no Brasil nos últimos tempos. Recentemente tivemos o polêmico longa dividido em dois filmes sobre o assassinato do casal Von Richthofen “A Menina que Matou os Pais” e “O Menino que Matou os Pais” e a série sobre o caso do assassinato de Marcos Matsunaga em “Elize Matsunaga: Era Uma Vez um Crime”.
Dessa vez, estreia no streaming uma minissérie documental sobre um dos maiores assaltos da história do Brasil, o Assalto ao Banco Central em Fortaleza. Para quem não se lembra, em 2005, assaltantes escavaram um túnel de 80m até o Banco Central do Brasil no Ceará para roubar aproximadamente 164 milhões de reais.
O caso já foi adaptado para telas no filme dirigido por Marcus Paulo em 2011 em uma obra ficcional, mas agora, “3 Tonelada$ – Assalto ao Banco Central”, tenta contar os resquícios deixados pelo crime. O longa tem seus pontos positivos enquanto material apresentado, entretanto, deixa a desejar quando se trata de quesitos estéticos.
A Netflix possui um grande problema quando se trata da padronização dos seus conteúdos, e nesse caso não é diferente. E nem é preciso esbanjar técnica, um documentário original do próprio streaming já fez isso, e se chama “Bandidos na TV”. Esse sim consegue nos intrigar mesmo sabendo o que aconteceu no final, ele te prende, impressiona e a cada episódio nos deixa mais curiosos e apreensivos – sem apelar para cliffhanger.
Todo documentário é um filme e não são linguagens completamente distintas como alguns pensam. Um documentário tem trilha sonora, roteiro, montagem e até personagens por conta da forma que os envolvidos se exibem aos espectadores. Todos esses elementos interferem na percepção do público ao relato que está sendo contado e “3 Tonelada$” passa mais caráter de reportagem jornalística do que fílmico.
Faltou nos episódios colocar outras perspectivas para criar novas linhas narrativas, pois, o que difere a reportagem do filme é justamente a busca da objetividade. Não faz sentido retratar um documentário em 2022 sobre um assalto de 2005 e não expor um novo raciocínio ou observação, visto que, foi falado ao decorrer da série, por exemplo, a questão da milícia, mas isso não é aprofundado.
A série se encerra com um relato de um dos principais policiais responsáveis pela investigação dizendo: “Não tenho dúvida que, pela forma como a gente analisa, a maioria deles vai voltar ao crime quando sair e nós vamos tá aqui preparados pra investigar novamente”. Agora pergunto, se o fim último da instituição prisional é a ressocialização dos indivíduos, então por qual motivo essa preocupação? Porque nas entrelinhas o que o policial quer dizer é que a prisão não cumpre a sua função e também que os mesmos crimes cometidos podem ocorrer novamente.
Digo que certos discursos, como esse, não devem se aplicar como algo universal, pois tornam – se problemáticos e por isso em certos casos é necessário uma intervenção para mediar os discursos. Isso seja por parte da edição, roteiro ou o que fosse para mostrar uma possível contradição.
No fim das contas, vale a pena assistir os três episódios a título de curiosidade, porém, não garanto que sua atenção será capturada durante todo tempo. Dificilmente irá maratonar, tendo em vista que falta aquela dose de intriga na série.
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